As cólicas são um dos dramas de quem acabou de ter um bebé. Pediatras explicam o que são, como se podem atenuar e dão conselhos úteis.
São uma das maiores inimigas dos novos pais. As cólicas dos bebés, que geralmente surgem ao final do dia, provocam desconforto à criança, fazendo-a chorar durante longos períodos, o que lhe gera um elevado grau de irritação, que não ajuda a que se acalme. Mas afinal, o que são as cólicas e o que é que as causa?
“Na verdade, não se sabe muito bem o que as causa”, diz à MAGG Hugo Rodrigues, pediatra, que acrescenta que se calcula que estas “estejam relacionadas com alguma imaturidade do intestino e acumulação de gases”.
A definição médica das cólicas baseia-se na chamada “regra dos 3”, como explica o pediatra — se os bebés choram mais de três horas por dia, mais de três dias por semana e mais de três semanas por mês.
“Na prática, consideramos que um bebé tem cólicas quando tem episódios de choro que não têm causa evidente e se fora desses episódios, a criança estiver bem”, afirma o especialista.
No entanto, existem outras teorias, e uma das mais consistentes assenta na premissa de que as cólicas dos recém-nascidos são apenas mais uma etapa do desenvolvimento cerebral do bebé.
As cólicas são tão comuns como gatinhar ou sentar
O pediatra Miguel Fragata Correia acredita que as cólicas são uma etapa do desenvolvimento das crianças, tão comum como aprender a gatinhar.
O cérebro dos recém-nascidos, ainda muito imaturo, tem uma perceção alterada dos estímulos dos intestinos e reage aos mesmos com um choro excessivo.”
“O bebé passa por um desenvolvimento cerebral e as cólicas são o reflexo disso mesmo. O cérebro dos recém-nascidos, ainda muito imaturo, tem uma perceção alterada dos estímulos dos intestinos e reage aos mesmos com um choro excessivo.”
O especialista afirma que as cólicas permanecem um mistério, dado que todos os estudos feitos no sentido de perceber a razão das mesmas se revelaram inconsistentes.
“Existe uma associação geral com os gases, e que é de facto um contributo (dado que quanto mais gás temos nos intestinos, maior é o desconforto), mas não é a razão principal”, refere o pediatra.
A obstipação das crianças também costuma ser um fator apontado por muitos pais como a causa mas, mais uma vez, o especialista desmente. “Se esse fosse o caso, não teríamos bebés que fazem cocó três e quatro vezes por dia e sofrem imenso com as cólicas.”
“Acredito que não fazem mal ao bebé, só à família”
Apesar do enorme desconforto que causa nas crianças, Miguel Fragata Correia acredita que as cólicas não são prejudiciais para a saúde. “Acredito que as cólicas não fazem mal ao bebé, só à família. São um período muito complicado, de extremo cansaço, muito stressante e os pais passam muitas horas sem dormir”, salienta o pediatra.
Débora Grilo Esteves, produtora, tem 30 anos e é mãe de duas crianças: Frederica, de dois anos, e Lopo, com apenas 10 semanas. “A Frederica nunca sofreu com cólicas por isso não fazia ideia do que me esperava. Nos primeiros dias o Lopo era um anjinho, dormia dia e noite e só acordava para mamar”, conta Débora.
Mas não demorou muito para o cenário se alterar. Com cerca de duas semanas, o filho de Débora e do companheiro de quase dez anos, Sebastião, começou a sofrer muito com cólicas. “Por volta das 19 horas começava a ficar irrequieto. De repente acordava a chorar, aos gritos mesmo, muito encarnado e não acalmava com nada. Tentava dar mama, colo, mimos — mas nada funcionava. E ficava assim horas e horas.”
As cólicas do filho mais novo foram complicadas de decifrar para Débora, e a produtora chegou a pensar se Lopo teria fome. ”Estás num tal estado de desespero que pensas em tudo e equacionei que o meu leite não fosse suficiente para o alimentar. Mas percebi numa consulta que estava a aumentar bem de peso e acabei por descartar essa hipótese.”
A produtora concorda que a fase das cólicas, que ainda atravessa no presente, é um período muito duro, principalmente para os pais, privados de sono e exaustos ao limite.
Já ouvi várias vezes que é uma fase, que geralmente termina por volta dos três, quatro meses e estou aqui em countdown.”
“Já ouvi várias vezes que é uma fase, que geralmente termina por volta dos três, quatro meses e estou aqui em countdown. São semanas muito complicadas. Quando a Frederica nasceu, aproveitava os momentos em que ela dormia para descansar mas agora a realidade é outra.”
Com uma criança de dois anos e um bebé de dez semanas em casa, Débora confessa que a gestão do tempo é desafiante e que o apoio do companheiro é crucial — assim como os momentos a dois para respirar.
“Os meus filhos não gostam de dormir ao mesmo tempo. Quando consigo adormecer o Lopo, a Frederica acorda e está super ativa, o que é completamente normal para a idade dela. Quer brincar, ver filmes, o que for. Mas o meu tempo de descanso desaparece. Acabámos por nos organizar por turnos: de noite eu fico responsável pelo bebé, de manhã o Sebastião cuida da nossa filha para eu dormir mais, por exemplo.”
O cansaço e a noites sem dormir também podem causar danos no casal, como explica o pediatra Miguel Fragata Correia, que considera que alguns pais até “podem ter de fazer terapia de casal. É um facto, as cólicas de uma criança podem alterar a dinâmica familiar.”
No caso de Débora e do companheiro, a exaustão também gera conflitos, apesar de o casal conseguir reconhecer facilmente a razão porque está a discutir.
“Estamos tão exaustos que começamos a discutir por tudo e por nada. Mas pouco depois conseguimos parar um bocadinho e perceber que o cansaço é o culpado de todas essas brigas. E tentamos também ter espaço para nós. De vez em quando recorremos aos avós ou às nossas irmãs e arranjamos forma de ir jantar com amigos ou a dois. É importante ter três horas para estarmos um com o outro, sem falar nem pensar em bebés.”
Há uma luz ao fundo do túnel: as cólicas, como qualquer fase, também passam
Patrícia Ferreira Ramos, blogger e assessora de imprensa, tem 35 anos e é mãe de dois filhos. Mas foi com a filha mais velha, de quatro anos, que passou pelo pesadelo das cólicas.
“A Leonor teve imensas até aos dois meses. Usámos todas as gotas e mais algumas, como o Aero-Om, e até pedimos a uma amiga da Irlanda para nos trazer umas especiais que não se vendiam em Portugal”, conta Patrícia.
A filha não dormia, os pais também não — e não sabiam mais o que fazer. Chegaram a ir ao hospital e passavam noites com a bebé ao colo e a fazer muitas massagens.
“Os nossos esforços aliviavam-na um pouco mas, de repente, as cólicas desapareceram por completo com cerca de dois meses.”
Os pediatras concordam: as cólicas têm uma linha de tempo. “Geralmente, começam por volta das três semanas, têm o seu pico nas seis, oito semanas, e terminam aos três ou quatro meses”, explica Miguel Fragata Correia, que acrescenta que ”são uma fase que todos os bebés passam, apenas existem uns que se manifestam mais que outros. E nunca vi casos de cólicas que não passassem, há que explicar isso aos pais.”
Enquanto não se atinge a marca dos quatro meses, que geralmente representa o fim desta saga, há que não desesperar — e existem técnicas para tentar acalmar o seu bebé.
A noção de que os recém-nascidos ganham habituação ao colo é um mito.”
“O mais importante é o contacto físico com os pais, porque tranquiliza os bebés”, afirma o pediatra Hugo Rodrigues. “Para além disso, devem sempre tentar-se as massagens ou dobrar as pernas do bebé sobre a barriga, para ver se ajuda.”
Miguel Fragata Correia é um apologista do colo para acalmar os bebés e vai mais longe — há que abandonar a ideia de que este pode ser prejudicial.
“A noção de que os recém-nascidos ganham habituação ao colo é um mito e, até aos cinco meses, nenhuma criança ganha manhas. Há sim que acalmar o bebé com colo, é mais fácil e as crianças respondem melhor. Se colocarmos um recém-nascido sozinho num berço, este não vai ter capacidade para se acalmar.”
O especialista acrescenta que, apesar de não existirem fórmulas precisas e cada criança ser diferente, as técnicas que acalmam mais os bebés são aquelas que recriam o ambiente do útero.
“Um ambiente calmo, quente, em que a mãe encoste o bebé a si fazendo um contacto pele a pele e embrulhado numa manta podem ser ferramentas úteis, bem como as massagens na barriga a cada muda da fralda”, afirma Miguel Fragata Correia, que acredita que há que “acalmar os bebés para acalmar os pais.”
Hugo Rodrigues conclui: ”Por fim, e se mesmo assim não se conseguir resolver a situação, existem alguns medicamentos no mercado com uma eficácia considerável. Faz sentido que os pais tentem testá-los para atenuar o desconforto do seu filho, desde que sempre aconselhados pelo médico pediatra.”
Adaptado de https://magg.pt
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