Estudo internacional mostra que os alunos portugueses do 4.º ano pioraram nas competências de leitura. Uma análise, também internacional, revela que as raparigas estão melhores do que os rapazes. E um projeto nacional garante que promover a leitura no pré-escolar tem resultados positivos.
Os alunos portugueses do 4.º ano estão piores nas competências de leitura, que abrangem os principais processos de compreensão nesta área, como localizar e retirar informação explícita, fazer interferências diretas, interpretar e integrar ideias e informação, analisar e avaliar o conteúdo e outros elementos textuais. E, nesta área, os rapazes estão piores do que as raparigas. Entre 2011 e 2016, Portugal caiu 11 lugares, passando do 19.º lugar para o 30.º, na lista dos 50 países que participam nos testes PIRLS – Progress in International Reading Literacy Study. Numa escala de mil pontos, Portugal atinge 528. A Rússia, Singapura e Hong Kong ocupam os três primeiros lugares.
Esta queda na leitura acaba por não ser assim tão surpreendente até porque os diretores escolares do 1.º Ciclo já vinham a alertar para uma pouca preocupação com os processos que envolvem a leitura, bem como para uma atenção excessiva para os resultados. Antecipar as provas de aferição, para não esperar pelo 4.º ano para perceber em que nível estão os alunos, é uma possibilidade em análise pela tutela. As metas curriculares não deverão ser alteradas.
Nesta avaliação internacional sobre a compreensão da Leitura dos alunos do 4.º ano de escolaridade, desenvolvida por uma associação internacional independente, constituída por instituições de investigação educacional e por agências governamentais de investigação dedicadas à melhoria da educação, só o Irão desceu mais do que Portugal, caindo 29 pontos. Curiosamente, os alunos portugueses são os que referem que mais gostam de ler, mas os resultados não encaixam nesse gosto.
O estudo internacional sobre alfabetização em leitura mostra que há uma diferença substancial no desempenho de meninos e meninas do 4.º ano. Os rapazes estão mais atrasados do que as raparigas na leitura. Nesse estudo da UNESCO e da Associação Internacional para a Avaliação de Desempenho Educacional (IEA), neste domínio da compreensão da leitura, há boas notícias quanto à evolução nesta área, mas, ao mesmo tempo, revela dados preocupantes em termos de género: as alunas superam os alunos em 48 países, em 18 pontos, liderando em áreas como leitura literária e leitura informativa. No nosso país, as raparigas continuam melhores do que os rapazes, embora essa diferença esteja a ser esbatida desde 2011.
A qualificação dos professores também tem peso na leitura dos alunos. A percentagem de docentes que tem pedagogia de leitura, métodos de ensino específicos para a instrução de leitura, anda pelos 20% em termos internacionais. O estudo concluiu que o desenvolvimento profissional dos professores não aborda adequadamente as habilidades especializadas necessárias para garantir a realização de leitura a todas as crianças. O que significa que os professores podem não estar devidamente preparados para assegurar uma aprendizagem de qualidade inclusiva e equitativa.
Há boas notícias neste assunto. Uma é que os pais estão mais envolvidos neste processo de alfabetização dos seus filhos e mais empenhados em criar o gosto pela leitura. E outra é que há mais alunos a frequentarem o pré-escolar e que, na sua maioria, têm um melhor desempenho médio na leitura quando estão no primeiro nível de ensino.
Atividades estruturadas
Há um projeto português que se debruça precisamente sobre essa vertente e que conclui que a promoção de leitura no jardim de infância reduz dificuldades no 1.º ano de escolaridade. O projeto, que envolveu cerca de mil crianças de quatro agrupamentos escolares, deteta que as atividades de leitura no jardim de infância diminuem em 50% o risco de dificuldades de aprendizagem no primeiro ano da escola.
Este projeto, coordenado pelo Politécnico do Porto, avaliou a linguagem e a consciência cronológica de crianças que frequentavam o pré-escolar e o 1.º ano de quatro agrupamentos de escolas do município do Porto, envolvendo-as de seguida na intervenção CiiL (Centro de Investigação e Intervenção na Leitura).
O projeto, iniciado em 2015 e atualmente em vigor, tem como objetivo prevenir “percursos de insucesso precoce na aprendizagem da leitura e da escrita”, para diminuir dificuldades que as crianças possam transportar para o 1.º ano, segundo adiantou Ana Sucena, coordenadora do projeto e professora do Politécnico do Porto, em declarações à Lusa. Para a responsável, é fundamental sensibilizar os educadores de infância para a promoção da linguagem, através de atividades estruturadas e sistematizadas.
No 1.º ano, é importante promover a consciência fonémica, um trabalho que pode ser iniciado no pré-escolar. “Enquanto não houver um patamar mínimo de desenvolvimento para esta competência, dificilmente a criança avança na leitura e na escrita, ou não avança de todo”, avisa Ana Sucena.
O estudo demonstra que uma “grande percentagem “das crianças, “que tinham tudo para ter um percurso de insucesso”, acabam por ter um percurso inserido “naquilo que é o esperado”. Sinal de que a leitura pode começar a fazer parte do dia a dia dos mais pequenos fora de casa.
Interpretar e integrar ideias
A literacia da leitura avaliada pelo PIRLS baseia-se numa noção abrangente do que é saber ler, que inclui a capacidade de refletir e de utilizar o que se lê para alcançar objetivos individuais e sociais. Por isso, o estudo internacional contempla a leitura como experiência literária e a leitura como meio para adquirir e utilizar informação. Na análise do desempenho, estas áreas são cruzadas com os principais processos de compreensão da leitura, nomeadamente localizar e retirar informação explícita, interpretar e integrar ideias.
A prova é constituída por um conjunto de cadernos, cada aluno responde a um caderno da prova, e os itens não são públicos de forma a permitir a comparação de resultados dos alunos ao longo das várias edições do estudo e identificar tendências nos resultados. Ao mesmo tempo, aplicam-se questionários para retirar informação do contexto social dos alunos e outros fatores que podem influenciar o desempenho na literacia da leitura.
O estudo internacional é realizado de cinco em cinco anos em vários países, o que permite comparações e abre perspetivas de se aprender com as experiências dos outros participantes. E é realizado com alunos do 4.º ano, com 9 ou 10 anos, por ser o momento em que as crianças já aprenderam a ler e passam a ler para aprender. No nosso país, cerca de 150 escolas e aproximadamente 4000 alunos participaram no PIRLS de 2011.
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