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O que os faz felizes?

  • Foto do escritor: Tiago Silva
    Tiago Silva
  • 5 de jan. de 2018
  • 5 min de leitura

Dizem-nos que ser mãe ou ser pai é a melhor coisa do mundo, mas ninguém avisa que isso implica também passar a viver acompanhados por questões constantes. “Será que fiz bem?” “Exagerei no castigo?” “Será que não disse que não com a frequência que devia?” No meio de todas as dúvidas que assaltam os pais, há uma resposta universal. Pergunte-se a qualquer um qual a coisa mais importante que quer para o seu filho e a resposta será: que seja feliz. A forma que reveste essa felicidade é todo um novo capítulo.



O que os faz as crianças felizes? Brincar? Passar tempo com os pais? Fazer atividades físicas ou artísticas? Superar desafios? E os miúdos, têm noção da sua própria felicidade? Vários estudos trazem alguma luz sobre a questão. As respostas parecem apontar um caminho, o da simplicidade. É no tempo passado em família e nos momentos de brincadeira que as crianças encontram a felicidade. Assim comprova o último estudo de uma conhecida marca de brinquedos (a Imaginarium), que entrevistou 1131 pais portugueses de crianças dos 0 aos 8 anos. Mais de metade (51,89%) acredita que a origem da felicidade dos filhos está no tempo passado com os pais e familiares, e 34,56% no tempo de brincadeira. O afeto ocupa um lugar-chave na felicidade dos mais novos: 33% defendem que é quando os filhos se sentem “ouvidos e queridos” que são mais felizes. Na mesma linha, 14% defendem que é fundamental reforçar a autoestima das crianças “elogiando-as e incentivando-as quando fazem algo bem”.


O QUE TÊM AS CRIANÇAS HOLANDESAS?

Em 2013, um relatório da UNICEF que mediu a felicidade e o bem-estar em 29 dos países mais ricos do mundo (incluindo Portugal) concluía que as crianças mais felizes eram as holandesas. Que especificidades têm? Primeiro, os bebés holandeses dormem mais horas; as crianças trazem poucos ou nenhuns trabalhos de casa na escola primária; a liberdade é incentivada desde cedo, podendo os miúdos ir sozinhos de bicicleta para a escola, ou brincar na rua sem supervisão; fazem refeições em família regularmente; passam mais tempo com os pais que nos outros países europeus; não têm uma cultura materialista — brincam com objetos em segunda mão; e, numa nota curiosa, comem cereais de chocolate ao pequeno-almoço.

Neste estudo, Portugal encontrava-se a meio da tabela, no 15º lugar entre 29. Alguns destes itens, como as refeições em família, são comuns à nossa cultura, que traz para a mesa a maior parte dos convívios. Contudo, o grau de liberdade e de confiança depositada na criança é menor, o que não lhe permite superar por si mesma os desafios, e assim reforçar a autoestima. A psicóloga clínica Tânia Gaspar, da Universidade Lusíada de Lisboa, considera que esta questão não é tão linear como pode parecer. “Tem de haver supervisão, mas sem excesso de controlo”, defende.

O tempo passado com os filhos é outra desvantagem dos progenitores lusitanos. No inquérito da Imaginarium, mais de metade dos portugueses inquiridos sente que “passa pouco tempo de qualidade com os filhos”, e quase 90% acreditam que “um horário laboral mais flexível lhes permitiria aumentar esse tempo de qualidade”. Estes momentos são dos que mais contribuem para o bem-estar das crianças. Mais de metade dos portugueses (52%) que respondeu ao inquérito afirmou que “aquele bocadinho antes de ir para a cama” é o mais feliz. É o momento da história, do mimo, em que pai, mãe e filho partilham instantes de cumplicidade. 19,96% elegem o tempo de brincadeira no jardim ou no parque, e 11,52% a hora do banho.

Tânia Gaspar, que em 2008 se doutorou em Qualidade de Vida em Crianças: Fatores Pessoais e Sociais Promotores da Qualidade de Vida, pela Universidade do Porto, concorda que o tempo de qualidade é central. É importante “criar momentos próprios, de conversa, de partilha”, em que pais e filhos falam sobre o dia, o que correu bem ou o que correu mal. Alerta: “A comunicação aberta tem de começar desde pequenino, para que seja normal na adolescência.” É também importante aceitar, em vez de criticar, para que o canal se mantenha.

A psicóloga coordenou ainda, em 2013, a parte portuguesa do European Kidscreen, que mede a qualidade de vida e o bem-estar das crianças europeias dos 8 aos 18 anos em 13 países europeus. A principal conclusão é muito positiva: “As nossas crianças, de um modo geral, são felizes”, afirma. “As crianças mais novas — até aos 12 anos — são mais felizes do que as mais velhas”, quando entram na pré-adolescência, mas Tânia Gaspar atribui esse facto às “alterações de desenvolvimento que caracterizam esta fase”, em que o jovem se torna mais independente da família, tenta perceber quem é e fazer as suas escolhas. Neste estudo, Portugal encontrava-se de novo a meio da tabela. As razões prendem-se essencialmente com a escola. “As crianças portuguesas são das que têm pior relação com o meio escolar, a pressão académica, o facto de acharem que são maus alunos.” Nesse sentido, a ausência de trabalhos de casa na escolaridade primária dos holandeses joga em favor da sua felicidade. Habituam-se a gostar da escola antes de a associarem à obrigação de estudar e ser avaliado.

A psicopedagoga Ana Vasconcelos acredita igualmente que “o sucesso escolar de um país é um índice de felicidade”. O ser humano é por definição um animal curioso, que gosta de aprender. E desde que a escola cumpra a sua função e forneça ferramentas, os alunos gostarão de a frequentar e terão resultados em consonância. Dá o exemplo da matemática, eterno ‘bicho papão’ em Portugal. “Uma criança que pensa bem a matemática é uma criança com segurança pessoal. Para se ter pensamento abstrato, é preciso ter concentração ao aprender. E se se estiver preocupado, não aprende”.

Não fala em felicidade, mas em qualidade de vida. “A felicidade é um conceito moral. Tem a ver com emoções e com sentimentos. Qualidade de vida é o que dá a sensação de felicidade”, diferencia. Ana Vasconcelos aconselha os pais a manterem a “ternura na ponta dos dedos”. A seu ver, educar para a felicidade é simples. É preciso conseguir algum grau de “qualidade diária”, mesmo quando a vida profissional é intensa; e é importante os pais não se sentirem culpados. “Estes têm de estar seguros das suas competências.” O que mais entristece uma criança, assegura, é sentir a tristeza dos pais, captar a sua “insegurança face à vida”, e registar “incoerência no cuidar”. As crianças refletem muito o estado dos progenitores. Portanto, pais felizes têm maior tendência para criar filhos felizes. Tânia Gaspar ressalva o seguinte: “A felicidade é uma direção, um processo, algo que se vai construindo.” Estamos no bom caminho. Para os pais eventualmente preocupados com o que irão dar aos filhos este Natal, deixamos uma ideia. Em vez de prendas, dêem-lhes tempo. É tudo o que querem.


Sente o seu filho, infeliz e desmotivado? Por vezes a solução encontra-se nas coisas mais simples.

Na nossa clínica, através da consulta de orientação de pais, poderemos ajudá-lo a ultrapassar as dificuldades que muitas vezes se apresentam como grandes obstáculos.


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